16 de set. de 2010

ADEUS, MEU BICHINHO

O tempo em que estou em Rondônia é o tempo que conheci a jornalista Fátima Alves. Chegamos com poucos dias de diferença. Ela, vindo da Paraíba junto com a Edineide Arruda, e eu, vindo de Minas Gerais. Fomos trabalhar juntos no Decom, onde fiquei até novembro de 86, passando, então, para a TV Educativa. No governo seguinte, Jerônimo Santana, voltamos a nos unir na recém- criada Secretaria Extraordinária de Comunicação, que de 'extraordinária' só tinha o secretário, Ascânio Seleme, que se achava. A Fátima exerceu a chefia de Gabinete. Fui em outro rumo, mas sempre que nos víamos eram abraços sinceros de amizade. "Olha o meu bichinho, como está bonito!", ela exagerava.
Em 1993, no sufoco dos governos Collor e Piana, fui surpreendido no Decom com uma ligação dela. Estava voltando para a Paraíba e iria me indicar para a Assessoria de Imprensa da Fiero. Ressaltou: "Meu bichinho, se você não quiser ou não puder, não tem problema, mas não indicarei ninguém além de tu". Agradeci, fui lá e deu certo. Sou eternamente grato por esta oportunidade.
Anos depois, ao voltar para Rondônia, trabalhando em lugares diferentes só nos viámos pelas ruas, em eventos. A alegria dos encontros permaneceu sempre a mesma. No governo Bianco, tive o prazer de retribuir a generosidade, indicando-a para a Assessoria de Imprensa da Faser. O cargo parecia ter sido reservado para ela. Foram muitas ações - fora da área de AI - que a Fátima realizou.
Acompanhei de longe a trajetória da Fatinha na assessoria da Prefeitura e sabia o que estava sofrendo. O jogo é bruto. E ela foi vítima desta brutalidade.
Eu a vi recentemente - talvez semanas antes de ser internada. Fui à Coordenadoria de Comunicação levar alguma coisa e a encontrei. Estava ao telefone e joguei um beijo de longe. Ele pediu um tempo ao interlocutor, levantou-se e me deu mais um daqueles abraços e a frase que me animava: "Olha o meu bichinho! Como tá bonito!".
Meu bichinho, você que é uma das pessoas mais bonitas que já conheci. Felizmente tive a oportunidade de dizer isso a você ainda em vida. Ficam as saudades dos momentos de pressão; de contrariedade (reescrever texto é chato, reconheço, mas é necessário); de cansaço - ô estado grande, esta Rondônia; das conversas sem pé nem cabeça nas intermináveis estradas de poeira; da cerveja bebida com gosto, pois o dinheiro era pouco e só dava para uma ou duas; e do seu sorriso, das suas gargalhadas na redação; da suas defesas ao PT e, intransigentemente, à mulher.
Vai descansar meu bichinho. Rezamos por você.
(Na foto, Fatinha me entrevista)

7 comentários:

Marcos Antéro Sóter disse...

Pois é, como diria o Zé de Nana, seu Zé. já se foram Paulinho Correia, Pedro Paulo, entre outros, e agora a nossa (digo nossa por que também me considero parte integrante do rol de amigos dela) Fatinha. Tivemos nossas discussões -quem não as tem- mas por motivos políticos -todos sabem que sou centro-direita - com a nossa Fatinha sempre defendendo o PT com unhas e dentes. Isso sem falar em outras causas que ela considerava importantes..
Que Deus a tenha.

Eca no Mundo Contemporâneo disse...

Como vocês jornalistas, eu também tive o privilégio de conviver com Fatinha, e testemunhar seu comprometimento com as causas sociais, especialmente, as da Criança e do Adolescente.
Sandra Lúcia/Bsb.

Edneide Arruda disse...

Zé Carlos,
Quando de sua estada aqui em BSB, falamos sobre Fatinha e sua generosidade. O falecimento dela, fere-me de morte. Era para mim uma irmã-companheira-parceira de lutas, projetos e sonhos. Em vida, Fatinha mostrou coerência política e compromisso com as causas justas. Ela merece toda a admiração, carinho, compaixão e respeito que está a receber nos sites de Rondônia. Edneide Arruda

Nahim Aguiar disse...

Olá Zé!
Muito me comoveu ao ler "adeus, meu bichinho", no seu blog banzeiros, pois conheci Fatinha quando estávamos no Sistema FIERO, em 96, sempre a admirei, principalmente pelo seu comportamento como jornalista e como uma mulher batalhadora que foi. A nossa passagem para um outro plano nos pega sempre de surpresa e eu não poderia deixar de ficar com a passagem de nossa amiga. Que a tenha ao seu lado.
Um abraço do amigo
Nahim

Edneide Arruda, disse...

Zé Carlos.
Falar sobre Fátima Alves, hoje, só me é possível com o coração, que tomado de saudades e tristezas, não avista lugar para razões nem espaços para poesias. Leia neste link.
http://observatoriofeminista.blogspot.com/?zx=791490b9221c825e
Edneide Arrudapedingha

Anônimo disse...

Primeiro agradeço sua homenagem feita a minha Mãe, agradeço a todos que expressam seus verdadeiros sentimentos. A maioria não conheço, talvez de vista mas agora não me recordo apesar de cercada de hipocrisia sei que ela conquistou muitos corações com sua humildade, ética na profissão e verdadeira foi todas essas qualidades e muitas outras que a fez ser a diferença nesse meio em que ela foi tão fiel sem devido reconhecimento em tantos anos de luta.Felizmente minha Mãe não participou do pacto da mediocridade tão comum nesse tempo de homens miseráveis!Essa foi a que com orgulho chamo minha Mãe, que Deus te guarde em bom lugar minha Rainha e sei que vai guardar pela pessoa que foi!Amaremos a senhora para sempre verdadeiramente! Sua filha Janaína Batista dos Santos

Ascânio Seleme disse...

Fatinha era uma jornalista séria, dedicada e competente. Eu a conheci
quando assumi a tal Secretaria extraordinária de Comunicação criada
por Jeronimo Santana. Conhecia pouco de Rondonia, o próprio Santana
era novidade para mim, assim como o Zé Carlos, o Marcio, o Mario Lucio
e a Fatinha. Indiquei-a para a Chefia de Gabihete pq aquela era um
Secretaria de jornalistas, e os cargos deveriam pertencer, todos, a
jornalistas. Ficamos um ano tentando fazer a coisa certa. Fatinha
ajudou muito. Zé, Marcio e Mario Lucio também. Todos se achavam, não
é mesmo, Zé? Menos Fatinha. Fatinha era melhor que todos nós.
Saudades.