18 de out. de 2013

SER JORNALISTA

Quero compartilhar com os seis leitores do blog o texto abaixo, da jornalista Larissa Tezzari. É muito bom e vale a pena ler.

"Sou filha de dois professores. Meus pais são paulistas, mas migraram para Rondônia na década de 1980, época em que o Estado sofreu seu boom populacional, recebendo pessoas de diversos locais do Brasil. Por conta disso, Rondônia é hoje uma mistura de culturas, falares e costumes. Eu faço parte então, de uma geração de rondonienses, filhos dos pioneiros que ajudaram a construir esse Estado recente, e assim, sou também um pedaço dessa mistura brasileira.

Uso o “tu” e o “você”, gosto de chimarrão, acarajé e de uma boa cuia de tacacá. Gosto de macaxeira, mas posso chamar de mandioca. Dirigindo pela cidade, já parei no sinal, no semáforo, no farol e no sinaleiro. Durante a época de festas juninas adoro comer mungunzá, e descobrir que muitos o chamam de canjica (o que geralmente causa uma confusão!).

Em meio a tantas misturas, sempre gostei de parar, sentar e ouvir a história dessas pessoas. Histórias de vinda e de vida. Tenho certeza que foi aí que o jornalismo começou a fazer parte da minha vida.
Penso que o jornalismo é contar histórias. De uma pessoa, de um lugar, de um acontecimento. E desde que o mundo é mundo, as histórias nos fazem conhecer o novo, refletir sobre um fato, descobrir o inusitado, redescobrir algo do passado, se colocar no lugar do outro... O jornalismo, ou o “contar histórias”, é utilidade pública.

Descobri o que gostava, o que amava, o que queria “fazer da vida”. Mas as dúvidas vieram juntas. Será que eu devo? Será que é o melhor?

Dentro de um histórico familiar humilde em sua raiz, com a presença de situações de extremas privações, quem recebe mais e melhor formação, mais e melhores oportunidades de aprendizado, tende a ser mais cobrado. Todas as minhas dúvidas na escolha da carreira existiram principalmente pelo medo de desagradar e de decepcionar àqueles que eu mais queria deixar orgulhosos. Mas foi dentro de casa também que aprendi que deveria viver a minha vida e não a vida que queriam para mim (palavras da minha mãe).

As escolhas foram feitas. Os caminhos foram duros, mas divertidos. E é inexplicável a sensação de ter o “canudo mágico” na mão. Lembro de ter me perguntado: “será que agora tenho super poderes?”, “será que agora posso mudar o mundo?”

O mundo que estava (e ainda está) dentro de Rondônia, passou a ser pequeno. É a hora de descobrir o restante dele.  As misturas, culturas e falares, formaram a pessoa que sou hoje. Viajei milhas sem sair do lugar. Agora, estou pronta para uma nova etapa.

De acordo com uma lenda da minha região, quem bebe a água do rio Madeira, rio que banha Porto Velho, sempre volta. E eu voltarei sempre. Mas, mais que isso, levarei comigo toda a sabedoria e as histórias contadas pelos meus companheiros do Norte, os responsáveis por uma das mais lindas tramas do nosso país.

Espero absorver todo o conhecimento e as novas experiências que vêm pela frente, porque, no final das contas, acredito que o que vale mesmo são as viagens que a vida nos proporciona, com tudo que elas podem nos ofertar. As bagagens estão prontas e, por mim, podemos partir imediatamente."

Um comentário:

beni domingues jr disse...

De fato José Carlos Sá tem razão. Um excelente texto, de uma excelente pessoa, falando de um lugar excelente!